OS NOVOS RUMOS DO TRABALHISMO NO BRASIL

A recente saída de Carlos Lupi do Ministério da Previdência Social e a nomeação do ex-deputado federal Wolney Queiroz para o cargo, sinalizam não apenas uma mudança de nomes na Esplanada dos Ministérios, mas um rearranjo tático diante de uma conjuntura política nacional que exige habilidade, pragmatismo e compromisso programático.

Carlos Lupi, ex-ministro da Previdência Social, figura histórica do Trabalhismo e presidente licenciado do PDT, retorna à presidência nacional do partido em um momento em que a legenda enfrenta profundos desafios, como o cumprimento da cláusula de barreira e a necessidade de recomposição de sua identidade frente ao eleitorado.

A substituição de Lupi pelo secretário executivo do ministério da Previdência Social, ex-deputado federal (PDT-PE), Wolney Queiroz, é resultado direto de uma negociação política com o Palácio do Planalto, que visa fortalecer a base de apoio ao governo Lula no Congresso.

Natural de Caruaru, em Pernambuco, Wolney Queiroz Maciel exerceu seis mandatos consecutivos como deputado federal por Pernambuco desde 1995. Nas redes sociais, o novo ministro ainda se apresenta como empresário, presidente do PDT em Pernambuco, além de ter assumido a liderança nacional da sigla em duas oportunidades.[1]

Ao ceder o posto a Wolney, um nome com trânsito no Legislativo e identificado com a ala moderada do partido, o PDT demonstra flexibilidade institucional, ao mesmo tempo em que assegura a manutenção de sua posição estratégica na estrutura governamental.

Vejamos que a permanência da legenda na pasta da Previdência Social, garante, além da gestão da visibilidade institucional, recursos e a possibilidade de influenciar políticas públicas de forte impacto social, coerentes com o ideário trabalhista.

Com este quadro categórico em tela, o artigo do Blog JustaMente desta semana refletirá sobre a conjuntura política pós-exoneração, à pedido, de Carlos Lupi, a indicação de Wolney Queiroz, a figura de Ciro Gomes neste novo cenário, a correlação de forças do PDT e a sustentabilidade partidária.

Boa leitura!

  1. O RETORNO DE LUPI À PRESIDÊNCIA DO PDT

O Partido Democrático Trabalhista (PDT) ainda não definiu sua posição política na campanha presidencial de 2026. O partido de centro-esquerda, que integra a Esplanada dos Ministérios, deve tomar uma decisão apenas no início do ano que vem.

Ciro tem afirmado que não será mais candidato à sucessão presidencial, dado o seu desempenho na última pesquisa Datafolha. Mas, tem chamado atenção dos dirigentes do PDT quando se analisa o cenário sem Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), em que Ciro lidera as intenções de voto, à frente de Fernando Haddad (PT) e de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nos cenários com Lula, Ciro aparece em terceiro lugar, o que, na avaliação de dirigentes do partido, demonstra um potencial de terceira via.

Lembremos que no pleito presidencial de 2022, o ex-governador do Ceará terminou a disputa em quarto lugar, com 3% dos votos válidos, atrás de Simone Tebet (MDB/MS). Hoje, a tendência maior é de que o PDT apoie uma eventual reeleição de Lula caso o presidente seja candidato a mais um mandato.[2]

O retorno de Lupi à presidência nacional do PDT ocorre num momento de necessidade de reestruturação organizacional. Com o desempenho eleitoral abaixo do esperado em 2022, o partido precisa reestruturar suas bases, reorganizar seus diretórios estaduais e construir estratégias sólidas para garantir os requisitos da cláusula de barreira, essencial para o acesso ao fundo partidário e ao tempo de rádio e TV.

Nesse cenário, a experiência de Carlos Lupi como dirigente nacional do Partido Democrático Trabalhista (PDT), seu conhecimento do aparelho partidário e sua capacidade de articulações políticas em todo o território nacional, serão determinantes.

  1. CIRO GOMES: POSSIBILIDADES, IMPOSSIBILIDADES E O MUNDO QUE VIRÁ

Embora a possibilidade de uma nova candidatura presidencial em 2026 seja cada vez mais remota, Ciro Gomes desponta nas atuais pesquisas de intenções de votos fora do grupo da direita. Depois da última derrota, ele prometeu nunca mais concorrer. No entretanto, caso mude de ideia, seguirá tendo dificuldades internas e externas.[3]

Seu desempenho eleitoral em 2022, ainda que expressivo do ponto de vista ideológico e programático, ficou aquém das expectativas e gerou tensões no Partido quanto à estratégia de isolamento político adotada, especialmente em relação ao PT.

Outros possíveis destinos estão sendo colocados para Ciro Gomes em 2026, cujas alternativas aventadas estão desde uma disputa ao governo do Ceará e, num desfecho negativo, a desfiliação do PDT, caso a legenda decida apoiar a reeleição de Lula no próximo pleito, o que minaria de vez a possibilidade de concorrer ao Planalto.[4]

A continuidade de Ciro no PDT como formulador e referência teórica do projeto nacional-desenvolvimentista é importante, mas talvez seu papel seja melhor desempenhado no campo da formação política, da elaboração programática e da construção de um novo ciclo de lideranças trabalhistas.

A impossibilidade atual de Ciro lançar-se à presidência não significa sua exclusão do jogo político nacional e político partidário. Caso seja confirmado, ou não, como candidato do PDT à presidência no pleito de 2026, Ciro continuará demonstrando sua relevância para o campo progressista.

Seu papel é fundamental, considerando-se a atual fase da polarização política, e suas ações impactam a estratégia partidária. A relação com seu irmão, Cid Gomes (engenheiro civil e Senador da República pelo PSB-CE), e a possibilidade de federações com outros partidos, como o PSB, também notificam o seu grau de influência tanto na política nacional, quanto na dinâmica do PDT.

Seu legado pode e deve ser canalizado para formar quadros, fortalecer a unidade ideológica do partido e propor um modelo de gestão pública baseado na racionalidade administrativa, no combate às desigualdades e na valorização do Estado como indutor do desenvolvimento.

Esse modelo, baseado no “Projeto Nacional Desenvolvimentista”, quando incorporado por gestores do partido nos níveis municipais e estaduais, pode ser um diferencial para o PDT conquistar legitimidade junto à sociedade.

  1. O PDT E A CORRELAÇÃO DE FORÇAS COM O PT NACIONAL

Após a saída de Carlos Lupi do ministério da Previdência Social, a relação entre o PDT e o PT permanece como um ponto delicado. A recente reorganização ministerial, no entanto, abre caminho para um diálogo mais maduro e pragmático.

O PDT, ao manter-se na base de apoio ao governo Lula, reforça seu papel como partido de centro-esquerda com responsabilidade de governança, sem abdicar de suas bandeiras históricas — como a educação de tempo integral, a reindustrialização, a valorização do trabalhador e a defesa das causas das minorias.

Todavia, a relação com o PT deve ser crítica, autônoma e propositiva, posto que o PDT, aliado histórico e fundamental para a base do governo Lula, impõe às lideranças de ambos os partidos a superação do episódio da saída de Lupi do comando do Ministério da Previdência.

De acordo com a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, “estamos conversando com as lideranças do partido pra superar essa situação envolvendo a Previdência, porque o PDT é um partido fundamental na nossa base aliada”.[5]

Por um lado, na avaliação de alguns parlamentares trabalhistas, o presidente Lula (PT) tem dado um “tratamento melhor” a integrantes do Centrão, que não são fiéis em votações, do que a um “aliado histórico” como o PDT, em comparação à situação de Juscelino Filho (União-MA) com a de Lupi (PDT).[6]

Por outro lado, no contexto baiano, a recomposição do PDT ao governo Jerônimo (PT), sob a liderança de Carlos Lupi e Félix Mendonça Jr., exige uma reavaliação estratégica, dado os episódios recentes que mudaram a conjuntura no cenário nacional.

O governador Jerônimo Rodrigues (PT), tem demonstrado disposição em dialogar com forças progressistas do Estado da Bahia, conforme sua afirmação sobre a adesão do PDT à base do governo estadual, reforçando a intenção de ampliar o diálogo com prefeitos, vice-prefeitos e vereadores que queiram se somar à gestão, declaração feita durante agenda comemorativa ao Dia do Trabalho.[7]

O PDT baiano, portanto, deve articular uma presença qualificada no governo estadual, indicando nomes que representem a pluralidade do partido, mas que estejam alinhados com seu programa e com sua base e seus movimentos sociais.

CLÁUSULA DE BARREIRA E SUSTENTABILIDADE PARTIDÁRIA: A HORA DA UNIDADE DOS TRABALHISTAS

A cláusula de barreira representa hoje um dos maiores desafios do PDT, levando os tomadores de decisão a implementarem ações estratégicas que garantam o mínimo de votos e representação parlamentar, condição sine-qua-non para a sobrevivência institucional da legenda.

Para isso, é necessário investir em candidaturas viáveis, em formação política de base, em comunicação digital eficaz e em alianças táticas nos estados. Lupi, com sua experiência, já vem trabalhando para equilibrar o pragmatismo necessário com a fidelidade às raízes brizolistas.

Ciro Gomes, por sua vez, tem todas as condições de oferecer ao partido um modelo de gestão moderno, eficaz e integrado com a atual realidade geopolítica internacional, unificando as rápidas transformações históricas aos interesses nacionais.

O Projeto Nacional de Desenvolvimento pode ser incorporado em experiências de prefeituras e governos estaduais onde o PDT venha a ter presença relevante, demonstrando à sociedade que o Trabalhismo é mais do que discurso: é projeto de nação.

A conjuntura política atual exige que as militâncias pedetistas saiam de suas “bolhas ideológicas”, ambientadas especialmente no modelo “online”, onde as pessoas são expostas apenas a informações e opiniões que confirmam aquilo em que já acreditam, criando um ciclo de reforço de suas crenças.

Este fenômeno, também conhecido como “câmara de eco”, é resultado de algoritmos que personalizam a experiência do sujeito, limitando a diversidade de informações a que ele é exposto, prejudicando, neste caso, a compreensão sobre como o tabuleiro político está sendo modificado e quem está mexendo as peças.

Para além de reflexões intempestivas e descompromissadas com o “Fio da História do PDT”, faz-se necessário uma abordagem metodológica capaz de unificar a interpretação dos novos eventos e das ações de atores políticos internos e externos.

As mudanças ministeriais, os desafios da cláusula de barreira, o papel de Ciro, a reorganização interna do partido e as relações com o governo federal compõem uma equação complexa que só será resolvida com diálogo, unidade e estratégia.

Convocamos, portanto, cada parlamentar nas esferas de poder em que atuam, cada dirigente partidário, cada militante e cada simpatizante do PDT a entender esta nova travessia como um momento dialético de afirmação política.

A unidade é a chave para que o Trabalhismo avance. Não se trata de renunciar às bandeiras históricas, mas de reinventá-las à luz dos novos tempos. A brava gente brasileira precisa do PDT. E o PDT precisa de todos nós — organizados, conscientes e mobilizados.

Avante, Trabalhistas. A luta continua!

Ricardo Justo - Educador, Gestor e Membro do Conselho do Comunica-PDT e da FLB-AP/BA

Os Rumos do Trabalhismo no Brasil

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5/5/2025

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