
A Polarização "LULOPETISMO/BOLSONARISMO" e a Alternativa de um Projeto de Desenvolvimento.
Parte III.
O NÓ GORDIO BRASILEIRO
Nos dois últimos artigos desta semana, discutimos as recentes movimentações políticas no Brasil e na Bahia, avaliando seus impactos nas alianças partidárias para o pleito eleitoral de 2026. No primeiro, abordamos a polarização entre o lulopetismo e o bolsonarismo, o enfraquecimento do presidente Lula, e as movimentações bolsonaristas em torno do nome de Tarcísio de Freitas, como demonstra as pesquisas recentes.
No segundo, analisamos como essa dinâmica nacional tem influenciado decisões locais, especialmente no que tange às articulações dos líderes partidários para os enfrentamentos desse quadro. Por um lado, vimos como a queda de popularidade do Presidente Lula vem impactando o governo estadual de Jerônimo Rodrigues (PT) e, por outro lado, acompanhamos as dificuldades que o grupo de ACM Neto (UB) tem encontrado para consolidar sua base.


Fechando essa série de reflexões, no artigo de hoje aprofundaremos um pouco mais a questão geral, tratando mais amiúde sobre como esse quadro nacional pode implicar nas negociações locais, refletindo sobre a reconfiguração das forças políticas baianas.
Encerramos esta série discutindo três aspectos fundamentais: a atual conjuntura política na Bahia, o afastamento de partidos da base de ACM Neto, as articulações realizadas para uma aliança entre PDT e PT e os consequentes desdobramentos na Bahia, incluindo uma avaliação sobre os possíveis posicionamentos dos quadros políticos do PDT da Bahia nesse novo cenário.
Evidentemente que essa é uma análise parcial de conjuntura, sendo necessário considerar outras avaliações, com perspectivas mais abrangentes, possibilitando novas discussões e contribuições acerca dos temas aqui apresentados.
A CONJUNTURA POLÍTICA NA BAHIA
A Bahia tem sido um dos estados mais relevantes e promissores para a sustentação e continuidade do Partido dos Trabalhadores (PT) no cenário nacional, com sucessivos governos estaduais sob a legenda desde 2006.
O governador Jerônimo Rodrigues (PT) dá continuidade a esse projeto de consolidação do Partido, submetendo o seu nome para o pleito de 2026, trabalhando para a ampliação do arco de alianças para reforçar a sua governabilidade e neutralizar a oposição.
Inclusive, o governador da Bahia está ajustando uma agenda com prefeitos do Partido Democrático Trabalhista (PDT), demonstrando total interesse em levar a sigla de volta à base do PT da Bahia, informando que essa união está em progresso.
Enquanto isso, ACM Neto enfrenta um desafio duplo: a necessidade de se manter relevante após a derrota em 2022 e a dificuldade de coordenar um bloco coeso para 2026. O enfraquecimento da sua base torna-se evidente com as movimentações de legendas que buscam novas alianças.
Todavia, os “netistas”, bloco fiel ao ex-prefeito de Salvador, continua confirmando o nome de ACM Neto como a primeira opção para a disputa pelo governo, mesmo com a debandada recente de prefeitos, cenário que deve ficar ainda mais difícil do que 2022, em que Neto perdeu a eleição quando também era considerado pelo grupo como franco favorito.
O AFASTAMENTO DE PARTIDOS DA BASE DE ACM NETO
Recentemente, partidos que antes orbitavam em torno do grupo de ACM Neto (UB) começaram a dar nítidos sinais de afastamento, percebendo a dificuldade do ex-prefeito em liderar um projeto competitivo para as próximas eleições.
Na iminência de perder mais siglas partidárias, ACM Neto tem pela frente um complicado quebra-cabeça: encontrar um nome para vice e dois candidatos ao Senado na sua chapa. Até o momento, quatro nomes foram cogitados, com a recusa total de três deles.[1]
Por sua vez, o Partido Republicanos, assim como setores do PP, tem sinalizado maior aproximação com o governador Jerônimo Rodrigues. Esse descolamento é motivado por uma leitura pragmática da política: garantir espaço em uma gestão estadual bem avaliada e evitar o desgaste de permanecer em um projeto que ainda busca por uma definição.
Por um lado, alguns cientistas políticos realçam os riscos da inabilidade gerencial de ACM Neto em conduzir o seu grupo de maneira unida. Por outro lado, líderes partidários e políticos próximos a Neto reclamam sobre o isolamento do ex-prefeito de Salvador, que não tem procurado costurar alianças.
A esperança do grupo “netista” é que a avaliação de Jerônimo caia mais, reduzindo os índices de aprovação da gestão estadual. ACM Neto ainda não confirma a candidatura ao governo baiano em 2026, apesar de reforçar que segue sendo porta-voz da oposição no estado, sinalizando para o desejo de comandar o governo baiano. Lembremos que em 2022, Neto foi derrotado por Jerônimo, no segundo turno, com o petista atingindo 52,78% dos votos na disputa estadual.[2]
O FUTURO DO PDT NA BAHIA
As recentes conversas e encaminhamentos de acordos entre PDT e PT na Bahia têm avançado bem, após o jantar oferecido, em Brasília, pelo líder do PDT na Câmara Federal, Mário Heringer (PDT-MG), ao ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), onde também participaram os deputados federais Félix Mendonça Júnior e Léo Prates, além do prefeito de Euclides da Cunha, Heldinho Macedo, do antecessor, Luciano Pinheiro, filiados ao partido e defensores públicos do apoio da sigla ao governo Jerônimo Rodrigues (PT).[3]
Esse alinhamento pode tanto fortalecer o governo estadual, quanto ressignificar o papel do PDT no cenário político da Bahia. Contudo, essa movimentação também levanta questões sobre algumas figuras dentro do partido com cargos executivos e parlamentares federais, estaduais e municipais que, historicamente, mantêm laços estreitos com o grupo político de ACM Neto.
Diante dessa nova conjuntura, surge a interrogação: essas lideranças permaneceriam no PDT ou migrariam para o União Brasil, acompanhando seu aliado político? Caso optem pela mudança, quais impactos isso representaria no futuro político de cada qual e, também, na própria dinâmica do PDT na Bahia?
IMPACTOS DA POSSÍVEL CANDIDATURA DE LULA
Em encontro reservado com líderes do Senado na noite desta terça-feira (2), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que estará na disputa ao Palácio do Planalto nas eleições de 2026, mostrando-se confiante de sua reeleição, apesar da alta desaprovação apontada pela última pesquisa Genial/Quaest, com 56% de rejeição sobre o governo.[4]
Essas movimentações têm implicações diretas no tabuleiro político nacional, especialmente para as alternativas do campo progressista. Por exemplo, a aliança do PDT com o PT pode fortalecer a legenda nos Estados e, também, pode criar tensões dentro do Partido, uma vez que Ciro Gomes se colocou como crítico ferrenho do lulopetismo.
Evidentemente que há uma tensão entre o lulopetismo e a postura ideológica de Ciro, que atualmente se posiciona como a única liderança do espectro político de centro-esquerda com um projeto viável para superar a polarização e recolocar o país nos caminhos do desenvolvimento econômico e da segurança política.
Por um lado, com a declaração de Lula que “se a saúde permitir será candidato”, fazendo questão de dizer que está forte e que se vê em plenas condições de levar adiante o plano “Lula IV”, esfriaria os arranjos produtivos para um nome alternativo de esquerda e centro-esquerda.
Por outro lado, a decisão de Lula em dar continuidade ao projeto de reeleição em 2026, anunciada junto aos líderes da base, prometendo mergulhar na articulação, coloca um compasso de espera nas costuras políticas que estão em processo, como no caso da Bahia.
Nesse cenário de 2026 com Lula na corrida presidencial, retorna a especulação sobre os obstáculos para a candidatura de Ciro Gomes e, no limite da continuidade da aliança PDT/PT, a possível saída dele das fileiras trabalhistas. Todavia, pessoas próximas a Ciro afirmam desconhecer qualquer movimentação para uma eventual desfiliação do PDT.[5]
O grande desafio será equilibrar essa aliança com o Projeto Nacional de Desenvolvimento (PND) defendido por Ciro, garantindo que o PDT não se torne um satélite do PT, mas sim um ator relevante com identidade própria.
Por uma mão, o sucesso dessa corrida nacional entre as duas agremiações políticas progressistas, dependerá da capacidade do PDT negociar a ampliação dos espaços políticos e manter a coerência de seu discurso para 2026, não abrindo mão do Projeto Nacional de Desenvolvimento.
Por outra mão, visto que a conjuntura baiana se apresenta como um microcosmo das disputas nacionais que se avizinham e que o Estado joga um papel estratégico nesse cenário, faz-se mister gerenciar os desdobramentos que influenciarão diretamente no xadrez político nacional.
Diante do cenário de polarização extrema que marca a vida nacional contemporânea, a busca por uma alternativa do campo progressista, viável e comprometida com um verdadeiro Projeto Nacional de Desenvolvimento, é uma necessidade inadiável.
O sucesso da movimentação das peças nesse novo tabuleiro depende, fundamentalmente, da habilidade política e de gestão de conflitos das nossas lideranças, cuja trajetória demonstra a capacidade de articular negociações políticas sem comprometer a coerência histórica trabalhista.
Ao nos encaminharmos para a conclusão desta série de reflexões políticas, é inevitável encarar com lucidez a possibilidade de uma aliança entre PT e PDT — tanto em nível nacional quanto na Bahia — sob a ótica estratégica da análise SWOT:
Forças: A união de duas forças históricas do campo progressista pode consolidar um bloco popular de grande capilaridade social, reunindo experiência administrativa, base eleitoral sólida e compromisso com pautas sociais. Para o PDT, essa aliança pode significar maior visibilidade, acesso a espaços de decisão e fortalecimento da sua identidade trabalhista em um campo unificado.
Fraquezas: Há riscos evidentes. O PDT pode ser engolido por uma lógica hegemonista petista, perdendo autonomia programática e diluindo sua proposta original de Trabalhismo. Diferenças de estilo político e histórico de disputas internas também pesam, podendo gerar ruídos e ressentimentos.
Oportunidades: A conjuntura brasileira clama por unidade diante das ameaças autoritárias e regressivas. Uma aliança bem negociada pode criar um novo ciclo de governabilidade progressista, renovado por ideias, quadros e projetos. Para a Bahia, isso pode representar uma alternativa vigorosa frente ao desgaste do “centrão”, do “neo-carlismo” e de uma extrema direita que busca se rearticular.
Ameaças: O maior risco é a descaracterização do PDT. Se não conseguir se afirmar como parceiro crítico e propositivo, pode se tornar satélite, o que comprometeria seu projeto histórico de refundação nacional com base no trabalhismo democrático, plural e inovador.
Diante desse quadro o desafio é duplo: cultivar a pluralidade sem abrir mão da identidade. O campo progressista precisa se renovar em diálogo, e o PDT tem um papel insubstituível nessa travessia. Cabe à sua militância e às suas lideranças a sabedoria para avaliar quando avançar, quando resistir e, sobretudo, como caminhar sem perder a Alma Nacional.
É preciso saber preservar a unidade na diversidade. Que o campo progressista não tema o diálogo, mas saiba que as pontes políticas só devem ser construídas com os pilares da firmeza ética e da clareza de rumo. O PDT não nasceu para ser satélite, mas estrela de primeira grandeza, fulgurante nos céus do Brasil.
Se for para unir forças, que seja sem submissão. Se for para caminhar juntos, que seja com bússola própria. Porque não há avanço real sem idéias novas, nem aliança duradoura sem respeito mútuo. E se há um tempo de refundação, que seja agora: Com coragem, com coerência e com coração!
Concluímos as reflexões desta semana com a máxima do filósofo Platão que afirma que “cada um de nós é como um homem que vê as coisas em um sonho e acredita conhecê-las perfeitamente, e então desperta para descobrir que não sabe nada”.
Por meio da reflexão crítica e da análise conceitual, é possível questionar premissas, examinar a realidade de forma abstrata e buscar a verdade, capacitando-se para discernir entre ilusão e realidade e compreender as questões fundamentais da existência, como a questão política.
Ao desenvolver o pensamento crítico, o “Blog JustaMente” busca auxiliar na formação de um juízo analítico objetivo, permitindo que nossos leitores e leitoras ajam com critério, baseando suas decisões em razões sólidas e ponderadas.
Ricardo Justo - Educador, Ambientalista e Acadêmico de Ciência Política
Crédito da imagem: Gerada por IA.
[1] Oposição admite dificuldade de ACM Neto para montar chapa de 2026 | A TARDE. Acesso em 03/04/2025.
[2] ACM Neto deve ter "pesquisa ampla" para a Bahia, com foco em "espírito de mudança" para 2026; entenda. Acesso em 03/04/2025.
[3 ] Durante jantar em Brasília, Rui Costa e Félix Mendonça tratam do futuro do PDT da Bahia: "Estamos tratando do futuro sim" - Bahia Notícias. Acesso em 03/04/2025.
[4] Lula diz a senadores que será candidato em 2026 | Blogs | CNN Brasil. Acesso em 93/04/2025.
[5] Possível federação com o PT pode levar à saída de Ciro Gomes do PDT. Acesso em 03/04/2025.
O Nó Gordio Brasileiro
A Polarização "LULOPETISMO/BOLSONARISMO" e a Alternativa de um Projeto de Desenvolvimento. Parte III.
Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta.
John Galbraith
O Nó Gordio Brasileiro - A Polarização "Lulopetismo/Bolsonarismo" e a Alternativa de um Projeto Nacional de Desenvolvimento (Parte III)
Nos dois últimos artigos desta semana, discutimos as recentes movimentações políticas no Brasil e na Bahia, avaliando seus impactos nas alianças partidárias para o pleito eleitoral de 2026. No primeiro, abordamos a polarização entre o lulopetismo e o bolsonarismo, o enfraquecimento do presidente Lula, e as movimentações bolsonaristas em torno do nome de Tarcísio de Freitas, como demonstra as pesquisas recentes.
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